sábado, 20 de agosto de 2011

"Eu quero. Vou comer é agora!"

"Vou comer é agora!" A frase não saiu de minha cabeça. Ele pronunciou bem claro e firme: "eu vou comer é agora". Fiquei sem reação, eu não esperava esse comentário tão aberto, sincero, declarado... A "fome" que ele expressou em palavras se refletia nos olhos a vontade de devorar tudo, até lamber os beiços. 

Hoje, como faço algumas vezes quando vou para a cidade, parei num restaurante para almoçar. Como deixei pouco mais da metade do que comera, decidi solicitar que embrulhasse para viagem. Nunca fiz isso, mas não sei por quê achei que poderia levar o prato para casa.

Continuei a minha jornada passando em alguns locais, mas no caminho encontrei aquele mendigo maltrapilho, que olhava por uma fresta do portão de uma casa, fuçava o lixo, o andar mole sem destino, hora parava hora caminhava...

Não resisti em peguntar: "Quer um prato de comida?" Depois daquela resposta tão contundente, ele pegou o embrulho, deu um giro de 180 graus como que procurando algum lugar para ficar e se sentou ali mesmo na calçada, encostado a uma vitrine de loja. Me emocionei com tamanha alegria pelo gesto tão insignificante. Pensei em tirar uma fotografia da satisfação que ele se encontrava, mas não achei digno.

Por que nunca pensamos em pedir para embrulhar o restante da comida? Como é possível um gesto tão simplório alegrar tanto uma alma perdida? Apenas um prato de comida e o dia de alguém será mais leve... O seu também.

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