quinta-feira, 21 de abril de 2011

As Bodas de Caná e a igreja do Bonfim, Bahia

Turistas que visitarem a igreja do Bonfim, em Salvador, irão descobrir, entre tantos paineis de azulejos,  uma imagem que representa as Bodas de Caná, do artista Paolo CALIARI, conhecido por VÉRONÈSE. A pintura do artista foi encomendada em 1563 para decorar o refeitório do mosteiro beneditino de S. Giorgio Maggiore. Hoje a obra se encontra no museu do Louvre, na França.

Azulejo da igreja do Bonfim
 No corredor lateral da igreja, do lado da sacristia, existe o painel de azulejo que faz alusão a essa pintura. Já ouvi da boca de especialistas em turismo e professores que o desenho significava a última ceia de Jesus. Falso! Ou que o personagem ao lado de Jesus era Maria Madalena. Erradíssimo.

Para mostrar as semelhanças entre a pintura e o ajuzejo da igreja primeiro vou me adentrar aos preceitos da Biblia para explicar o sentido do desenho. Segundo o apóstolo João, o primeiro milagre de Jesus aconteceu durante o banquete de um casamento realizado em Canaã, na Galiléia. Jesus e sua mãe, Maria, foram convidados.  No final do banquete, o vinho acabara. Jesus solicitara aos servidores que enchessem o jarro de água e depois servissem o mestre da casa. Este constatou que a água se transformara em vinho.


Bodas de Caná - Veronèse
 Na pintura de Veronèse, os noivos se encontram na ponta esquerda da mesa, Jesus no centro e a seu lado a virgem Maria. Ele está cercado de discípulos, clérigos, príncipes, aristocratas venezianos, orientais em turbante, todos em trajes suntuosos, numerosos serviçais e o povo. O artista distribuiu 130 convidados misturando personagens da Bíblia com figuras contemporâneas. Esses personagens não são completamente identificáveis, embora fosse mencionado em uma legenda do século XVIII que o próprio artista seria o músico de branco tocando uma “viole de gambe” (*)acompanhado de  Titien e Bassano, também pintores.

O desenho do azulejo da igreja, por sua vez, é a parte central dessa obra, mas algumas mudanças foram realizadas. Não são 130 personagens, mas 16. Isso pode dar a falsa interpretação da ceia com os apóstolos. O pintor de azulejos desenhou Jesus, a virgem Maria, convidados, dois músicos, um deles podendo ser o próprio artista, e um serviçal que despeja o vinho de um grande pote para um jarro. 

Descubra outros paineis que contam histórias e enchem os olhos de tanta beleza, visitando pessoalmente a famosa igreja do Senhor do Bonfim, construída no século XVIII  
(*) Entendo que há um exquívoco no texto do Museu do Louvre, onde foi realizada esta pesquisa. Ele menciona que o autor da obra teria feito seu autoretrato, no papel do músico de roupa branca que toca “une viole de gambe”. A “viole de gambe”, segundo o  dicionário virtual francês, é o ancestral do violoncelo. No dicionário petit Larousse, a explicação é (viole qui se joue sur ou entre les jambes). Ou seja, instrumento que se toca colocando-o entre as pernas. Ainda no Larousse, um desenho mostra que o instrumento tem o mesmo tamanho que o violoncelo. Portanto não se pode entender se o auto retrato do pintor seria o músico que toca violino (roupa branca)  ou o que toca violoncelo (viole de gambe).

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