sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Automóvel: alto custo para pouca qualidade de vida.

A falta de transporte público de qualidade no Brasil continua sendo ótimo negócio para as empresas automobilísticas estrangeiras. Os lucros delas começaram por volta dos anos 50 com o lobby organizado pela Ford, Volkswagem, Mercedes Benz e Fiat, pressionando o governo a construir estradas pavimentadas no lugar de estradas de ferro. Verdade seja dita, o governo de Juscelino Kubitscheck promoveu o desenvolvimento do Brasil, no entanto esqueceu dos trilhos. A partir de então os governos negligenciaram o transporte em comum.

Em pleno século 21, no país que vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o transporte é precário: poucas linhas de metrô em grandes capitais e nenhuma em outras; sistema de transporte fluvial medíocre e ônibus imundos em várias cidades do Brasil, com atrasos insuportáveis e superlotados que deixam qualquer um com os nervos em frangalhos.

Na Europa, o transporte público funciona perfeitamente, com metrôs, ônibus e principalmente trens, muito utilizados por serem menos poluentes, rápidos, econômicos e não sofrem engarrafamentos. Eles se entrelaçam nas cidades e entre elas de forma a alcançar passageiros mais distantes. As viagens entre os países fronteiriços também podem ser feitas em TGV (Trem de Grande Velocidade). Até a classe média-alta faz uso deles.
Custos

No Brasil, a coisa é diferente. As pessoas ignoram quanto sai do bolso para usufruir de seu pequeno mundinho privativo, um gasto necessário diante da precariedade dos transportes. Contribuem,  mesmo involuntariamente, para outro caos por conta dos engarrafamentos e a poluição. Ainda pior, correm o risco de ter seu produto roubado ou ser vítima de  assalto ou sequestro, resultando muitas vezes em acontecimentos dramáticos e fatais.

O gasto na aquisição de um automóvel e sua manutenção prejudica o investimento em lazer, bem estar e qualidade de vida. Fiz uma pesquisa sobre o custo do automóvel seminovo de um morador de São Paulo, um de Salvador e um terceiro de Minas Gerais. Tirei uma média dos gastos mensais de gasolina, estacionamento, flanelinha, lavagem e seguro e multipliquei por 12 meses, resultando em R$ 20.887,92. Juntei também os valores de IPVA, seguro obrigatório, licenciamento, revisão anual, mecânico, reposição de peças, pedágio, alterando para  R$ 22.390,17. No final de seis anos, a média de gastos de um automóvel é R$ 169.337,02, sem contar o aumento inflacionário anual. É muito dinheiro.

A crítica levantada não é contra o automóvel particular, mas contra a falta de opções para se locomover na cidade com transportes comuns de primeiro mundo. Não é contra um bem material, mas o seu uso diário provoca poluição, engarrafamento, estresse, violência e acidentes.  Em São Paulo, o excesso de veículos fez o governo da capital paulista decretar o rodízio de carros proibindo sua circulação limitando o uso conforme o dia da semana e o final de chapa. Foi um tiro no pé. Provocou o aumento na compra de veículos para poder transitar com outro final de chapa durante o rodízio.

O custo de um automóvel poderia ser revertido em viagens com a família ao exterior, ou na aquisição de uma casa na praia ou até mesmo um hiate. A busca de soluções individuais para problemas coletivos oferece a falsa impressão de ter qualidade de vida. Resta precionar fortemente os governos, fazer um lobby como as multinacionais, para que se invista na qualidade de transportes.